Conveniência, preocupação com a saúde e envelhecimento da população estimulam o segmento de suplementos alimentares, que passou a atrair empresas como a Speedo, Havanna e Hershey’s
A proteína é reconhecida como um nutriente essencial e benéfico à saúde, uma percepção que tem impulsionado o consumidor a buscá-la em produtos que entregam praticidade e bem-estar. Nessa onda, as opções de barrinhas e bebidas lácteas enriquecidas com proteína são destaque e não param de crescer, abrindo oportunidades também para outras categorias, como a nutrição infantil e o mercado pet.
Com as prateleiras dos supermercados abarrotadas desses itens, será que ainda há espaço para essas bebidas e barras concentradas crescerem para além do modismo?
As previsões no varejo, dizem que sim.
Essa categoria, que tem alta margem de lucro, está em crescimento acelerado, especialmente nos Estados Unidos, onde as tendências costumam despontar. E por essa razão, é considerada uma oportunidade tanto para fabricantes como para lojistas que buscam aumentar a rentabilidade por metro quadrado em seus estabelecimentos.
É um produto com preço acima da média, alto valor agregado e pode-se dizer que ainda está em desenvolvimento. Há muito espaço para gerar experimentação, tanto por parte de consumidores regulares como de entrantes.
O mercado global de bebidas proteicas têm expectativa de crescer 7,72% até o ano de 2027, segundo dados da Mondor Intelligence. E o de barras de proteína, 26% entre 2022 e 2026, segundo dados da Euromonitor.
O produto em si não é uma novidade. Eles já são vistos nas prateleiras há algum tempo, mas nos últimos anos o apelo e a apresentação foram mudando – assim como a quantidade de proteína em cada um deles. Líder no segmento de barrinhas, a marca Bold materializa bem a evolução desse mercado.
Quando fundou a Bold, em 2018, o empresário Gabriel Ferreira investiu R$ 150 mil e tinha na mira clientes em busca de performance por meio de suplementos em pó como o whey, creatina e repositor energético. Mas o negócio não decolou. Ao pesquisar o mercado externo, Ferreira decidiu abandonar os suplementos, reposicionar a imagem da marca e apostar nas barras com 20 gramas de proteína que, hoje, são vendidas a um preço médio de R$ 15 a unidade.
Com embalagem mais colorida, grande variedade de sabores e com a proposta de conversar com um público mais amplo, Ferreira apostou logo de cara em parcerias com influenciadores voltados à promoção de um estilo de vida saudável. A partir daí, o negócio engatou e ganhou relevância. A previsão é chegar em 2027 com faturamento superior a R$ 500 milhões, além de expandir as linhas de produção e começar a criar novas guloseimas, sempre à base de proteína.
Na prática, o que se vê é que o uso da proteína expandiu e migrou para marcas que têm como propósito permear o comportamento e estilo de vida daqueles que buscam por saúde. O segmento movimentou cerca de R$ 100 bilhões em 2023, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentos (ABIA).
Com tradição em produtos para natação, a Speedo expandiu para o mercado de alimentos saudáveis e espera, em 2025, faturar R$ 3,2 milhões com a venda de 250 mil unidades de barras de proteína. Roberto Jalonetsky, presidente da Speedo, diz que esse movimento é uma extensão natural de seu posicionamento para criar um elo mais forte com o consumidor, não apenas durante a prática esportiva, mas ao longo de todo o dia.
Sem açúcares adicionados ou aditivos artificiais, as barras de proteína da Speedo possuem 137 calorias e 12 gramas de proteína. Seu preço sugerido é de R$ 12,90. Neste ano, até quatro novos produtos devem ser lançados para complementar essa nova linha de nutrição. Uma das possibilidades é uma bebida proteica, como o YoPro, da Danone.
Outra empresa que resolveu entrar nesse segmento foi a Havanna, que desde 2021 tenta inserir a marca entre os produtos funcionais. Em uma parceria com a Danone, a empresa argentina anunciou, há 4 meses, o lançamento do YoPro Doce de Leite Havanna.
A Hershey’s, conhecida por seus chocolates e até então sem experiência em alimentos saudáveis, fechou um acordo com a C4 Energy, marca de suplementos de maior vendagem nos Estados Unidos, para a criação de um produto com chocolate ao leite e a manteiga de amendoim e chocolate da Reese, que passarão a ser vendidos como proteínas em pó para bebidas energéticas borbulhantes.
Collabs desse tipo evidenciam a tentativa dessa indústria de ter uma fidelização maior entre os clientes, dando um tom de indulgência a produtos que acabaram por gerar um boom no mercado.
Outra questão é que o consumidor de saudáveis, em geral, passa mais tempo na gôndola analisando opções e sabores, por isso, ser assertivo no sortimento e na exposição favorece a navegação e, consequentemente, a conversão em vendas.
Além disso, diz, é importante aproximar esses produtos das categorias relacionadas, como ovos, batata-doce, aipim, inhame e bebidas lácteas, estimulando o cliente a comprar mais (crossmerchandising).
Embora os preços desses produtos ainda sejam elevados para o consumo diário, já começam a despontar opções de consumo também para as classes C e D – o que confirma a consistência de uma tendência mais duradoura. Fonte: Nielsen
Pesquisador do tema e especialista em tecnologia de alimentos, o alemão Bastian Hoermann diz que as pesquisas da ADM, agência focada em soluções para a indústria de alimentos, apontam que 78% dos consumidores globais associam a proteína à saúde imunológica. Mesmo assim, ele considera que o conhecimento geral dos consumidores sobre o componente pode ser considerado restrito, o que reforça o setor como uma oportunidade para os fabricantes e lojistas.
Em uma pesquisa realizada pela NielsenIQ, a maioria (59%) dos entrevistados afirma gastar mais com produtos que melhorem a saúde. Outro estudo específico sobre o assunto, feito também pela Nielsen, mostra que em 2021 houve um aumento de 41% no consumo das bebidas lácteas tipo UHT proteicas.
Débora Dutra, diretora de marketing da Vitafor, empresa de suplementos nutricionais, detalha que essa tendência é fortalecida pelo envelhecimento da população, maior adesão a atividade física e pela mudança de perfil dos consumidores desde a pandemia – que agora buscam por composição limpa, sabor agradável, praticidade e diferentes apresentações. Tudo isso faz com que a categoria de bem-estar com proteínas em pó e bebidas energéticas, especialmente as elaboradas em sabores populares de doces, avance ainda mais.
“O acesso à informação, a conscientização feita por profissionais da saúde, estudos científicos e embasamentos comprovam os benefícios da proteína e aceleram essa tendência”, analisa a diretora de marketing da Vitafor.
PROTEÍNA VEGETAL
Mirando uma recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que indica que adultos consumam entre 0,8 e 1,2 gramas de proteína por quilo de peso corporal, Brandão alerta que ainda há espaço para um outro boom – a proteína de origem vegetal, que em poucos anos deverá ter participação dominante no mercado.
Ocorre que o número de vegetarianos e veganos no Brasil disparou nos últimos anos. De acordo com pesquisa realizada pelo IBOPE, cerca de 14% dos brasileiros se consideram vegetarianos – número que representa um crescimento de 75% em relação a 2012.
Assim como o mercado gastronômico está repleto de restaurantes e marcas do segmento – e a tendência é só aumentar -, os produtos concentrados em proteína vegetal são vistos como uma grande aposta associada ao desenvolvimento de tecnologia de alimentos, diz o especialista.
“A evolução de pesquisas, o crescimento do plant based e o peso dos influenciadores pautarão muito a indústria e a preferência dos consumidores”, afirma Brandão.
De acordo com o The Good Food Instituto Brasil (GFI), o negócio de plant-based cresce mais de 7% ao ano e terá uma expansão anual média de quase 12% até 2027, conforme cálculo do Meticulous Market Research, enquanto o setor de carne deve crescer 4,5% ao ano.
Dados do GFI mostram que, só em 2020, R$ 3,1 bilhões foram investidos no segmento. O mercado mais avançado de produtos dessa categoria é, de longe, o dos Estados Unidos, que cresceu 27% entre 2019 e 2020, bem acima do varejo do setor de alimentos em geral (15%).
Segundo a Plant Based Food Association, em 2020, por exemplo, mais da metade de todas as famílias americanas comprou produtos do tipo. O futuro desse mercado, no entanto, será dominado pelos asiáticos, chegando aos US$ 4,6 bilhões em 2030. E a previsão é de que a maior parcela desse consumo será ocupada por produtos lácteos alternativos (57%).